A venda de caminhão usado disparou no Brasil. As 34.832 vendas registadas em agosto representam alta de 7,35% em relação às 32.447 de julho. Na comparação com o mesmo mês de 2019 o avanço foi de 3,35%. Os dados foram divulgados pela Fenabrave, federação que reúne as associações de concessionárias de veículos do Brasil.
Gerente da SelecTrucks, loja multimarcas de seminovos da Mercedes-Benz, Luiz Pereira diz que a alta é resultado de ao menos dois fatores. O primeiro é o aquecimento do agronegócio, que vem sendo impulsionado pelas exportações. “Isso fez com motoristas agregados e pequenos transportadores tivessem de investir às pressas num caminhão”, diz.
O outro fator apontado por Pereira é a falta de alguns modelos zero-km para entrega imediata. A opinião é compartilhada pelo presidente da NTC&Logistica, Francisco Pelucio. “Se não há novo, tem de ir para o caminhão usado”, diz ele em entrevista exclusiva ao Estradão.
“Houve alta repentina na demanda por veículos novos”, diz Pereira. Ele explica que a falta de alguns modelos está ligada à redução da produção. Isso, por sua vez, é resultado da quarentena imposta pelo avanço do novo coronavírus. As fábricas tiveram de interromper a produção para atender as regras de isolamento social.
“Creio que essa situação seja pontual. No último trimestre tudo deve estar normalizado”, afirma o gerente da Select Trucks. Ele diz que migração do novo para o caminhão usado contribui para o aumento de 25% das vendas da loja. A alta se refere à comparação dos 1.070 negócios feitos de janeiro a agosto de 2020 ante as 854 vendas feitas mesmo período de 2019.
Caminhão usado é saída à fila de espera
Em julho a demanda por frete começou a normalizar no Brasil. Com isso os gestores da Alex Transportes, de São Paulo, retomaram os planos de comprar um caminhão zero-km. Mas o gerente de operações da empresa, Marcelo Dodorico, não encontrou o modelo para entrega no prazo necessário.
“As lojas que eu consultei informaram prazos superiores a 60 dias”, conta. Além disso ele afirma que os preços haviam subido, em média, 20% em relação às cotações feitas no ano passado. A empresa acabou comprando um caminhão com quatro anos de uso diretamente do proprietário.
“Os preços dos caminhões usados também aumentaram”, diz Dodorico. Ele afirma que pagou R$ 135 mil por um modelo que, no ano passado, estava cotado a R$ 120 mil. O aumento média, segundo ele, está girando em torno de 10%.
A Alex Transportes não está sozinha. Serafim Transportes, de Joinville, em Santa Catarina, trabalha com carga lotação na região Sudeste. Em agosto, após decidir pela compra de um caminhão novo, o dono da transportadora, Geovani Antunes Serafim, ficou surpreso com os preços. Segundo ele, o aumento médio foi de 25%.
“Consultamos garagens (revendas multimarcas), mas o preço do usado também subiu. Optamos por um usado de um particular”, diz. A Serafim tem 20 caminhões próprios, com idade média de seis anos. A empresa transporta alimentos, embalagens para cosméticos, remédios e produtos para construção civil.
E-commerce aquecido faz demanda aumentar
Em sondagem feita no início do ano pelo Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC), ligado ao Setcesp, 89% das transportadoras informaram que pretendiam comprar ao menos um caminhão novo. “Talvez esse desejo tenha diminuído com as dificuldades que surgiram” diz o diretor do IPTC, Fernando Zingler.
Ele lembra que o fechamento dos Detrans e Denatrans por causa da pandemia suspendeu o emplacamento de veículos novos. “A falta desse serviço pode ajudar a explicar a migração da compra do novo para um usado”, avalia. Faz sentido.
Além disso, houve um aquecimento expressivo no volume de negócios do comércio eletrônico. “Toda a cadeia, de novo e usados, passou a receber mais demandas. Com as fábricas fechadas, a compra de usados cresceu”, diz Elis Siqueira. Ele é responsável pela área de inteligência de mercado da Fenauto, associação que representa revendedores de veículos.
Segundo o especialista, houve alta tanto na procura por caminhões novos quanto usados. Ele afirma ainda que o segmento de zero-km está começando a se equilibrar.
Fabricantes ampliam produção
Em agosto, embora a produção de caminhões no Brasil tenha crescido 7,3%, as vendas de novos recuaram 15,23%. O motivo seria a falta de produtos para entrega. Em resposta ao Estradão, o vice-presidente da Anfavea, Marcos Saltini, minimizou o impacto da redução da oferta.
De acordo com ele, a situação não é generalizada, mas pode estar havendo falta de modelos específicos. “Isso requer ajustes (da indústria), porque não tem (o caminhão) disponível e precisa produzir”. Segundo Saltini, esse é um dos principais desafios a serem superados.
Ele diz ainda que as fabricantes estão focadas em manter os cuidados para preservar a saúde dos colaboradores. E que o setor vem acompanhando o mercado de perto para entender como será daqui para frente. “Queremos ajustar nossa capacidade de atendimento, mas não vamos fazer isso por meio de aumento de estoque. Isso tem um custo alto e ainda não sabemos como o mercado irá se comportar.” Fonte: Estradão/ Estadão.