O transporte de cargas enfrentou altos e baixos no Brasil em 2020. Com a pandemia do novo coronavírus, o País praticamente parou. E o faturamento de transportadoras e frotistas despencou no primeiro trimestre. Ao mesmo tempo, as fábricas paralisaram a produção de caminhões.
No entanto, setores como agronegócio, comércio eletrônico e construção civil voltaram a se aquecer. Consequentemente, a demanda por frete cresceu a partir do terceiro trimestre.
Mas a economia voltou a recuperar. Com isso, a venda de caminhões novos aumentou de forma repentina. E o setor de transporte de cargas voltou a respirar.
Contudo, a produção não acompanhou a demanda. Com isso, a fila de espera por caminhões zero-km cresceu. E empresas que precisavam de veículos novos tiveram de recorrer ao usado.
Ao mesmo tempo, o roubo de carga recuou. Isso foi resultado da redução do movimento de veículos nas estradas. Inclusive o de caminhões e ônibus.
Enquanto isso, serviços com a locação de caminhões ganharam força. Assim como a oferta de opções aos motores a diesel. Neste meio tempo, a Scania chegou à marca de 50 caminhões a gás vendidos no Brasil.
O Estradão listou alguns dos fatos que mais marcaram o setor em 2020. Confira abaixo.
Transporte de carga ganhou novo cálculo para o frete
No início do ano o governo aprovou uma resolução com novos parâmetros para o cálculo do frete. Em suma, o piso mínimo passou a incluir o valor das diárias do caminhoneiro. Além disso, a carga do tipo pressurizada, comum no transporte de produtos químicos, foi incluída na tabela.
Depois disso, as tabelas de pisos mínimos foram elaboradas conforme as especificidades da carga. E divididas em categorias. Por exemplo: carga geral, a granel, frigorificada, perigosa, neogranel e pressurizada.
Por fim, quem contratar serviço de transporte rodoviário de cargas e pagar abaixo do piso mínimo estabelecido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT pode ser multado. Os valores vão de R$ 550 a R$ 10.500.
Paralisação das fábricas
Com a pandemia, as fabricantes de caminhões suspenderam a produção temporariamente. No fim de março, Mercedes-Benz, Scania, Volkswagen Caminhões e ônibus e Volvo pararam primeiro. Depois, a produção voltou de forma gradual a partir de abril. Enfim, foi normalizada em junho.
Contudo, não no mesmo ritmo de antes da pandemia. Desde então, o índice de ociosidade é de 60%. O dado é da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores, a Anfavea.
Contudo, as empresas ainda estão cumprindo os protocolos de segurança sanitária. Por isso, o ritmo de produção ainda continua lento.
Queda de 36% na produção
Em junho, a Anfavea previu que as vendas de caminhões novos cairiam 36% em 2020. A expectativa era de vender apenas 65 mil unidades no ano.
No entanto, antes da pandemia as projeções de vendas eram de 110 mil caminhões. Ou seja: a expectativa era de queda de mais de 40%.
Na época, a Anfavea avisou que as projeções poderiam mudar. E foi o que ocorreu. Com a expansão do agronegócio e de outros setores da economia, a estimativa de queda mudou para 18%.
Ou seja, vendas de 83,5 mil unidades em 2020. Ao que tudo indica, essa previsão se concretizará. No acumulado de janeiro a novembro, a indústria já emplacou 76.431 caminhões.
Adiamento do Euro 6 para 2025
A Anfavea informou em agosto que iria pedir o adiamento do Proconve 8 ao governo. No entanto, a nova fase do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores deve entrar em vigor em 2023. O programa brasileiro é equivalente ao Euro 6, que já está em vigor na Europa.
Presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes disse que um dos motivos para o pedido era a queda nas vendas. De acordo com ele, a crise gerada pelo novo coronavírus derrubou a receita do setor em 40%.
Por fim, o executivo disse que as fabricantes continuam apoiando o programa de controle de poluição. “Nós estamos comprometidos com o Proconve desde o início, na década de 1980.
Também de acordo com a Anfavea, implementar a nova fase do programa é muito caro. Segundo a associação, o investimento necessário é de R$ 12 bilhões. Isso inclui automóveis e veículos pesados.
Valor do frete defasado em 13,6%
Segundo um estudo da NTC divulgado em agosto, o valor do frete no País estava defasado em 13,6%. Além disso, as transportadoras ofereciam descontos de 4,7% nos contratos.
O levantamento foi feito pelo Departamento de Custos Operacionais (Decope) da NTC. E contou com a participação de 7.236 transportadoras.
Entre o fim de maio e o início de junho, surgiram os primeiros sinais de recuperação. No levantamento mais recente da NTC, feito entre os dias 22 e 26 de junho, a retração apurada foi de 22,9%. Embora os números ainda fossem negativos, já mostravam que a tendência de recuperação continuava firme.
Promessa de renovação da frota
Em agosto, o governo federal prometeu que haveria um plano nacional de incentivo à renovação da frota. A informação é do Secretário do Desenvolvimento do Ministério da Economia, Gustavo Ene.
Inicialmente, o plano foca veículos pesados. “Estamos em um alinhamento final. Conversamos com governos estaduais e já temos sinalização positiva de seis Estados”, disse.
Além disso, a idade média da frota de caminhões aumentou. Passou de 9 anos e 7 meses para 11 anos e 7 meses. Os dados são do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
Ao considerar apenas os caminhões de autônomos, a idade média é de 17,9 anos. Os dados são da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT).
A crise gerada pela pandemia pode agravar ainda mais essa situação. Ao mesmo tempo, as fabricantes de caminhões começaram a ganhar algum fôlego em julho. Contudo, o cenário ainda é negativo.
Queda no número de roubos de carga
As ocorrências de roubo de carga nas estradas federais do Brasil recuaram 27,1% em agosto de 2020. Foram 59 casos, ante os 81 registros feitos em agosto de 2019.
Na comparação do primeiro semestre (536 casos) com o mesmo período de 2019 (577), a queda foi de 7,1%. Os dados foram apurados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) a pedido do Estradão.
A queda vem ocorrendo de forma gradual há três anos. Em 2019, o número de assaltos recuou 17,1% na comparação com 2018.
Na comparação de 2018 com 2017, a redução foi de 16,8%. Produtos alimentícios, combustíveis, farmacêuticos, cigarros e bebidas foram as cargas mais visadas pelos ladrões.
Essas informações fazem parte do relatório de 2019 feito pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística – NTC&Logística. A expectativa é de recuo entre 17% e 19% em 2020.
A estimativa é do assessor de segurança do Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo (Setcesp), Coronel Paulo Roberto de Souza. Para o especialista, a queda é resultado das ações de combate a crimes. Sobretudo as feitas pelos órgãos de segurança dos Estados.
Menos demissões a partir de setembro
A partir de setembro, o número de demissões no setor de transporte ficou estável pela primeira vez após três meses seguidos. A conclusão é de um estudo da CNT feito com 914 empresas do setor.
Das 40,6% empresas que demitiram por causa da retração nos negócios, mais da metade (55,3%) disseram que não fariam novos cortes de pessoal. Das que não demitiram, 83,8% pretendiam manter essa política até o fim de 2020.
Em abril, de cada dez empresas ouvidas pela CNT, quatro informaram que precisariam demitir. Na época, o volume de carga transportada havia recuado mais de 40%.
Vendas de usados: saída para as filas de espera
O aumento repentino da demanda a partir do segundo semestre fez a fila de espera por caminhões novos aumentar. Em consequência, a venda de caminhões usados disparou.
Em agosto, por exemplo, os dados da Fenabrave mostravam que o crescimento das vendas na comparação com julho era de 7,35%.
A loja de usados da Mercedes-Benz, Selec Trucks reportou migração de compradores de novos para os usados. Isso contribuiu para o aumento de 25% das vendas.
A alta se referia à comparação com os 1.070 negócios feitos de janeiro a agosto de 2020. No mesmo período de 2019, foram 854. Segundo o gerente da SelecTrucks, loja multimarcas de seminovos da Mercedes-Benz, Luiz Pereira, a alta foi resultado de pelo menos dois fatores.
O primeiro foi o aquecimento do agronegócio, impulsionado pelas exportações. “Isso fez com que motoristas agregados e pequenos transportadores tivessem de investir às pressas num caminhão”, diz.
Além disso, a falta de alguns modelos zero-km contribuíram para a alta na procura por usados. A opinião é compartilhada pelo presidente da NTC&Logistica, Francisco Pelucio. “Se não há novo, tem de ir para o caminhão usado”, disse o executivo em entrevista exclusiva ao Estradão. Fonte: Estradão/ Estadão.
Confira a íntegra em: https://estradao.estadao.com.br/caminhoes/retrospectiva-2020-do-setor-de-transporte-de-cargas-no-brasil/