Demissão humanizada: existe isso?

Faz algum tempo que viralizou nas redes sociais uma publicação de uma pessoa que dizia ter sido demitida e a foto com o recebimento de uma cesta de bombons, um cartão e alguns balões. Ela afirmava em sua postagem estar agradecida porque seu desligamento tinha sido uma demissão humanizada. Quem via a imagem sem ler o texto, associaria facilmente a votos de parabéns ou feliz aniversário.

O post teve inúmeros comentários, algumas pessoas compreensivas e outras avessas a situação que em tons de crítica, comentavam que balões e chocolates não amenizam a perda do emprego.

“Acho que nenhuma demissão é humanizada. Desligar um funcionário por uma razão, qualquer que seja, nunca é confortável”, comenta Marcelo Patrus, CEO da Patrus Transportes, acrescentando que demissões são inevitáveis e ocorrem dentro de uma empresa de transporte por vários motivos como por exemplo, a queda da quantidade de cargas.

O fator humanizado, do caso postado nas redes, foi muito caracterizado pelos presentes recebidos, o que realmente, segundo os especialistas, não aplaca o ocorrido. Eles dizem também que não há maneira certa para desligar alguém, já que cada situação varia de caso a caso. No entanto, existe sim um jeito melhor, capaz de amenizar os impactos. E, para isso, ao invés de mimos, os princípios básicos a serem aplicados são a transparência e a empatia.

Marcelo concorda que esses dois fatores são fundamentais. Para ele, se tem que demitir alguém, é preciso fazer norteado pelo respeito, e nisso algumas regras implantadas em sua empresa já ajudam. “Aqui na Patrus Transportes, um dos critérios é não desligar nenhum colaborador as sextas-feiras”, conta.

Ele explica que se você demite na sexta-feira, provavelmente isso afetará o fim de semana inteiro do colaborador, consternando-o em um período geralmente destinado ao lazer e ao tempo com a família. Fora isso, compromete a chance de ele ir atrás de outras oportunidades de imediato, já que sábados e domingos estão fora do horário comercial. O mesmo vale na Patrus para as vésperas de feriados.

Outra coisa é quanto ao período que precede as férias ou no retornar dela. “Muitas empresas colocam as pessoas em férias para demiti-la quando voltar. Aqui não fazemos isso. Se tiver que demitir, fazemos em outros momentos. A empresa terá que pagar o período de férias do mesmo jeito”, diz.

Além disso, o CEO fala ainda que ao desligar qualquer pessoa na Patrus, o gestor e o líder precisam explicar o motivo da demissão com muita franqueza. “Estou demitindo, porque daqui em diante seremos assim, ou eu não gostei disso e aquilo”, exemplifica ele.

Entre relatos comuns de pessoas demitidas, muitas se queixam exatamente da falta de transparência. Sem os devidos esclarecimentos do real motivo da demissão, eles se perguntam onde erraram, sem nenhum feedback que os permitam se aperfeiçoar para futuras oportunidades.

Há casos de cisões e fusões nas organizações, em que os gestores garantem que nada vai mudar e depois vem as demissões em massas. Quando os cortes não ocorrem em um único dia, a tensão toma conta do clima da organização, e os colaboradores acabam executando as tarefas sob pressão com mais chance de errar.

Também ao final do encerramento do contrato de um colaborador da Patrus, ele passa por uma entrevista de desligamento. “A pessoa que foi demitida tem que ter a oportunidade de dizer como se sentiu”, afirma o CEO. Na transportadora, o gestor responsável pela contratação é o mesmo responsável pelo desligamento.

“As pessoas precisam estar felizes, e para isso precisam ser ouvidas. Na Patrus, antes do desligamento, o líder deve ouvir seus liderados e dar os seus feedbacks. Não existe líder feliz se o seu liderado está infeliz”, afirma Marcelo.

E ele tem razão, o bom clima de trabalho é fundamental em qualquer organização. De acordo com um estudo da Gallup, empresa de pesquisa americana, funcionários felizes têm 50% menos acidentes laborais. Já uma pesquisa da Harvard Business Review revelou que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos e 85% mais eficientes.

No transporte, o bem-estar do colaborador pode significar um número menor de acidentes de trânsito, baixos índices de extravio de mercadorias e também de rotatividade de pessoal, o temido turnover, que é um dos fatores de prejuízos nas empresas.

“As pessoas são o maior ativo de uma empresa. Ser humanizado no trato com os colaboradores é uma cultura. O zelo com o ser humano não é algo da boca para fora, precisa ser na prática, no dia a dia”, conclui Marcelo.

Não há segredo, só empatia para fazer com que aquele desligamento traga uma experiência emocional menos impactante possível para colaboradores e gestores, que não haja traumas e fique apenas as boas lembranças, para ambos os lados, de um ciclo que chegou ao fim.

Fica a dica!

8 ações que empresas podem fazer para diminuir os impactos de uma demissão

– Prepare com antecedência o gestor responsável por demitir alguém.

– O recomendado é que o líder direto ou, no caso de empresas pequenas, o próprio dono da empresa comunique a decisão com o apoio do RH.

– Converse com o funcionário individualmente em um ambiente privado.

– Prefira fazer isso presencialmente. Apesar disso, em caso de trabalho remoto uma reunião online pode ser feita.

– Explique os motivos reais do desligamento do funcionário.

– Evite certos tipos de comentários, como por exemplo dizer a frase “isso vai ser bom para você”, pode soar como hipocrisia.

– Faça a entrevista de desligamento. Mesmo encerrando o vínculo com a empresa o ex-colaborador entenderá que a empresa valoriza a opinião dele.

– Se possível, auxilie a pessoa demitida com uma recolocação no mercado de trabalho.

Fonte: Revista Setcesp.