Carlos Panzan, presidente da FETCESP: “Aumento do biodiesel eleva custos e compromete a eficiência do transporte rodoviário”

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu elevar de 14% para 15% a mistura obrigatória de biodiesel no diesel a partir desta sexta-feira (1º). Defendida pelo governo como avanço sustentável, a medida preocupa o transporte rodoviário. O presidente da Federação as Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo, avalia os impactos

Transporte Moderno — Qual é a avaliação da FETCESP sobre a decisão do CNPE de elevar o percentual de biodiesel de 14% para 15%?

Carlos Panzan – A decisão acende um alerta para os transportadores rodoviários. Já enfrentamos custos elevados de manutenção e ainda convivemos com desafios como burocracia, falta de segurança e infraestrutura deficiente. O aumento da mistura pode agravar esse cenário.

Transporte Moderno — Quais são os principais impactos práticos dessa medida para as transportadoras?

Carlos Panzan – Estudos da UnB e da UFMG mostram que o maior teor de biodiesel pode gerar aumento no consumo, mais emissões de CO₂ e NOx, perda de torque e potência, além de comprometer o desempenho em rotas mais exigentes

Transporte Moderno — E quanto à durabilidade dos motores, há de fato prejuízos?

Carlos Panzan — Desde o B14, em 2024, houve aumento de mais de 7% nos custos de manutenção por veículo. Os filtros de combustível têm vida útil reduzida pela metade, e há registros frequentes de panes por conta de contaminação e instabilidade do biodiesel, principalmente em climas frios.

Transporte Moderno — O que isso significa em termos de custos e frete?

Carlos Panzan — O biodiesel, em sua maioria derivado da soja, tem características físico-químicas diferentes do diesel mineral, como maior viscosidade e absorção de água. Isso provoca maior desgaste de motores e sistemas de injeção, elevando custos de manutenção e, consequentemente, pressionando o preço do frete.

Transporte Moderno — Essa decisão afeta a competitividade do transporte rodoviário frente a outros modais?

Carlos Panzan — Sim. Aumentar custos e reduzir eficiência enfraquece a competitividade do modal rodoviário, que já é essencial para o abastecimento nacional.

Transporte Moderno — O setor foi consultado antes da decisão?

Carlos Panzan — Não. A medida foi unilateral. Isso gera quebra de confiança, pois faltou discussão técnica com quem é diretamente impactado.

Transporte Moderno — Há risco de problemas de qualidade ou disponibilidade de combustível?

Carlos Panzan — Sem dúvida. A qualidade do biodiesel não tem sido devidamente controlada, o que pode causar sérios danos aos motores.

Transporte Moderno — Quais alternativas a FETCESP defende?

Carlos Panzan — Defendemos avanços graduais, técnicos e dialogados. A transição energética é necessária, mas não pode comprometer a eficiência logística, a segurança viária e a sustentabilidade das empresas.

Transporte Moderno — E quais seriam os próximos passos para um diálogo mais equilibrado com o governo?

Carlos Panzan — Queremos contribuir para um transporte mais verde e eficiente. O ideal é aliar avanço ambiental com responsabilidade técnica e segurança operacional, sem prejudicar o setor que garante o abastecimento do país.

 

Fonte: Transporte Moderno / Foto: Divulgação

Governo mantém em 14% mistura de biodiesel no diesel para conter inflação

Planejamento do CNPE era elevar percntual para 15 % a partir de 1o de março

Para segurar o avanço na inflação dos alimentos, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) optou por manter em 14% a quantidade de biodiesel misturada ao óleo diesel. O cronograma do governo previa que, a partir de 1º de março, o porcentual seria elevado a 15%.

A decisão baseia-se no fato de que o aumento da mistura encareceria o combustível usado no transporte de cargas, o que refletiria nos preços dos alimentos – atualmente o diesel corresponde a 35% do valor do frete dos caminhoneiros. Isto aconteceria mesmo com o fato de a maior parte do biodiesel utilizado no País ter a soja como origem, item que em sua maioria é exportado.

Se crescesse o porcentual do biodiesel, mais caro, o diesel registraria seu segundo aumento em um mês. Em busca de reduzir a defasagem em comparação ao preço internacional no fim de janeiro, a Petrobras elevou o valor do litro para as distribuidoras em R$ 0,22.

programa do governo federal Combustível do Futuro, sancionado por lei em outubro, estabelece que a quantidade do biodiesel no diesel varie de 13% a 25%. A adição, todavia, é obrigatória desde 2008, como parte de política nacional para diminuir a poluição do transporte de cargas.

Fonte: Autodata

CNT orienta como registrar problemas na frota ocasionados pelo biodiesel

Fale conosco (ANP) e Ouvidoria (CGU) recebem os registros das não conformidades

 

Um estudo realizado pela UNB (Universidade de Brasília) mostrou que o aumento percentual de Biodiesel a partir de 7% eleva a emissão de CO2 e diminui a potência dos motores.

O aumento do percentual da mistura ao diesel vendido passará a ser, em março de 2025, de 15%. Um crescimento de 3% comparado ao ano de 2023.

Com isso, as preocupações acerca de eventuais problemas aumentam, já que o crescimento da mistura sem uma prévia adaptação do motor, segundo especialistas da área, deteriora as peças metálicas, podendo ocasionar problemas na parte eletrônica embarcada do veículo e um entupimento das válvulas.

Os relatos de empresas que estão receosas com o aumento do uso do biodiesel está crescendo, e por isso, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) criou um guia para indicar como os relatos devem ser feitos ao governo, em especial sobre acontecimentos durante a atividade de transporte, como falhas mecânicas. Esses relatos podem ser feitos junto à ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e à CGU (Controladoria Geral da União).

A CNT tem conhecimento dos riscos, e, portanto, incentiva que sejam comunicadas as ocorrências aos órgãos responsáveis a fim de contribuir para futuras políticas públicas relativas ao uso de combustíveis alternativos.

Confira o material de orientação e faça o registro de suas ocorrências!

 

Fonte: SINDISAN (Com orientações da CNT)